O Reino Unido está "atrasado" no rastreio das operações do Kremlin nas suas águas profundas, disse Tobias Ellwood ao jornal britânico
The Guardian, após terem sido encontrados sensores de espionagem dirigidos a submarinos da Marinha Real Britânica, como revelou o
jornal
The Times.
Segundo a mesma a fonte, o Kremlin terá tentado espiar através de sensores a frota "Vanguard" da Marinha Real Britânica - que permite transportar mísseis nucleares -, tendo sido alguns desses dispositivos localizados pela Marinha enquanto outros acabaram por dar à costa.A revelação confirma que Londres está "agora numa
guerra de zona cinzenta com a Rússia", disse Ellwood, alertando
para a estratégia de sabotagem e vigilância não declaradada do Kremlin
que visa infraestruturas britânicas.
Após a revelação do
Times sobre a descoberta de vários
dispositivos de espionagem russos apreendidos pela Defesa britânica, não
confirmada oficialmente pelo Governo de Londres,
o ex-ministro que tutelava a pasta considera que é necessária uma enorme expansão da capacidade da vigilância da Marinha.
Bases russas no fundo do mar
Em entrevista ao
Guardian, Tobbias Ellwood disse que a utilização de sensores é "apenas metade da história", acrescentando que o Kremlin tinha estabelecido "plataformas remotas no fundo do mar", ao largo da costa do Reino Unido, com vista a
"mapear as redes de cabos submarinos para potencial sabotagem", que, segundo o próprio, são do conhecimento dos funcionários do Governo.
O antigo deputado conservador alertou para a vulnerabilidade do Reino Unido que é ressaltada pela dependência de dados e energia que passam pelas infraestruturas submarinas britânicas.
"Noventa por cento dos nossos dados provêm do mar e 60 por cento do gás vem da Noruega por uma linha, pelo que se pode ver como somos vulneráveis", afirmou. "A escala dos danos é enorme, é negável e é barato de fazer. Essa é a dimensão preocupante de tudo isto".
"Uma guerra a decorrer no Atlântico"
Apesar da aquisição do RFA Proteus, o navio de vigilância de alto-mar adquirido pela Marinha Real Britânica em 2023, Elwood defendeu a necessidade de investir em mais navios. "O Proteus é apenas um navio e dada a ameaça desta envergadura da zona cinzenta, vamos precisar de meia dúzia destes navios, se não mais".
Os incidentes suspeitos no Báltico, como o corte de cabos entre a Finlândia, Estónia e Suécia, intensificaram as preocupação com a chamada "frota sombra" da Rússia.
No seu artigo sobre a atividade russa nas águas submarinas britânicas, o
Times citou uma fonte militar britânica no ativo que terá dito:
"Não deve haver dúvidas de que há uma guerra a decorrer no Atlântico.
Trata-se de um jogo do gato e do rato que tem continuado desde o fim da
guerra fria e que está agora a aquecer novamente”.
Também outra fonte citada disse que: "É um pouco como a corrida espacial. Este é um mundo envolto em
secretismo e subterfúgio (...) mas há fumo suficiente para sugerir que algo
está a arder algures”.
Alegações são "especulação"
No entanto, o Ministério britânico da Defesa tratou as alegações como "especulação", mas reforçou o compromisso com a segurança nacional, com um aumento dos gastos em defesa e o fortalecimento da dissuasão nuclear.
"A nossa força de dissuasão nuclear contínua no mar continua a patrulhar
os oceanos do mundo sem ser detectada, como tem feito desde há 56 anos.
Estamos também a aumentar as nossas despesas com a defesa (...) para nos mantermos seguros em casa e fortes no estrangeiro", afirmou um porta-voz da Defesa.