Espionagem russa. Crescem apelos à expansão da vigilância em águas britânicas

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
O "HMS Cattistock" vigia o navio russo "Admiral Vladimirsky" em trânsito no Canal da Mancha, no Reino Unido, a 20 de março de 2025. Royal Navy via Reuters

A descoberta de dispositivos de espionagem russos próximos de submarinos da Marinha Real Britânica intensificou os apelos para expandir a vigilância naval do Reino Unido. O antigo ministro britânico da Defesa Tobias Ellwood alerta para o atraso do país na resposta às ameaças russas em águas profundas, que podem apoiar operações de sabotagem e comprometer a segurança nacional.

O Reino Unido está "atrasado" no rastreio das operações do Kremlin nas suas águas profundas, disse Tobias Ellwood ao jornal britânico The Guardian, após terem sido encontrados sensores de espionagem dirigidos a submarinos da Marinha Real Britânica, como revelou o jornal The Times

Segundo a mesma a fonte, o Kremlin terá tentado espiar através de sensores a frota "Vanguard" da Marinha Real Britânica - que permite transportar mísseis nucleares -, tendo sido alguns desses dispositivos localizados pela Marinha enquanto outros acabaram por dar à costa.A revelação confirma que Londres está "agora numa guerra de zona cinzenta com a Rússia", disse Ellwood, alertando para a estratégia de sabotagem e vigilância não declaradada do Kremlin que visa infraestruturas britânicas.

Após a revelação do Times sobre a descoberta de vários dispositivos de espionagem russos apreendidos pela Defesa britânica, não confirmada oficialmente pelo Governo de Londres, o ex-ministro que tutelava a pasta considera que é necessária uma enorme expansão da capacidade da vigilância da Marinha.
Bases russas no fundo do mar

Em entrevista ao Guardian, Tobbias Ellwood disse que a utilização de sensores é "apenas metade da história", acrescentando que o Kremlin tinha estabelecido "plataformas remotas no fundo do mar", ao largo da costa do Reino Unido, com vista a "mapear as redes de cabos submarinos para potencial sabotagem", que, segundo o próprio, são do conhecimento dos funcionários do Governo.

O antigo deputado conservador alertou para a vulnerabilidade do Reino Unido que é ressaltada pela dependência de dados e energia que passam pelas infraestruturas submarinas britânicas.

"Noventa por cento dos nossos dados provêm do mar e 60 por cento do gás vem da Noruega por uma linha, pelo que se pode ver como somos vulneráveis", afirmou. "A escala dos danos é enorme, é negável e é barato de fazer. Essa é a dimensão preocupante de tudo isto".
"Uma guerra a decorrer no Atlântico"

Apesar da aquisição do RFA Proteus, o navio de vigilância de alto-mar adquirido pela Marinha Real Britânica em 2023, Elwood defendeu a necessidade de investir em mais navios. "O Proteus é apenas um navio e dada a ameaça desta envergadura da zona cinzenta, vamos precisar de meia dúzia destes navios, se não mais".

Os incidentes suspeitos no Báltico, como o corte de cabos entre a Finlândia, Estónia e Suécia, intensificaram as preocupação com a chamada "frota sombra" da Rússia.

No seu artigo sobre a atividade russa nas águas submarinas britânicas, o Times citou uma fonte militar britânica no ativo que terá dito: "Não deve haver dúvidas de que há uma guerra a decorrer no Atlântico. Trata-se de um jogo do gato e do rato que tem continuado desde o fim da guerra fria e que está agora a aquecer novamente”.

Também outra fonte citada disse que: "É um pouco como a corrida espacial. Este é um mundo envolto em secretismo e subterfúgio (...) mas há fumo suficiente para sugerir que algo está a arder algures”.
Alegações são "especulação"

No entanto, o Ministério britânico da Defesa tratou as alegações como "especulação", mas reforçou o compromisso com a segurança nacional, com um aumento dos gastos em defesa e o fortalecimento da dissuasão nuclear.

"A nossa força de dissuasão nuclear contínua no mar continua a patrulhar os oceanos do mundo sem ser detectada, como tem feito desde há 56 anos. Estamos também a aumentar as nossas despesas com a defesa (...) para nos mantermos seguros em casa e fortes no estrangeiro", afirmou um porta-voz da Defesa.
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